Mudanças: dinamismo de uma Igreja em Saída!
Pe. Luis Antônio Penna
Assessor do Conselho Diocesano de Leigos e Pároco na Paróquia Nossa Senhora da Luz em Mogi Guaçu.
Sempre escrevo sobre alguns temas sociais do momento, mas hoje quero fazer como padre, mas também como paroquiano e principalmente como cristão fiel batizado e membro do corpo de Cristo, uma reflexão Eclesiológica. Hoje não à toa comemoramos a Festa de Pedro e Paulo duas colunas da Igreja que nos lembra que somos uma Igreja de Tradição Apostólica que segue o que foi fundada na Fé dos Apóstolos, buscamos atualizar o que aprendemos deles e principalmente do nosso mestre Jesus.
Assim respeitamos três pilares de nossa Fé: A Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério da Igreja e se entenda por esse último toda a orientação hoje do nosso Santo Padre o Papa Francisco e também as orientações dos organismos eclesiais, de forma muito singular para nós do Brasil a CNBB - Conferência dos Bispos representada na pessoa de nosso Bispo Diocesano Dom Eugênio buscando assimilar e nos unir às suas orientações e decisões.
Feito essa introdução necessária, entro agora no tema propriamente dito. Olhando os comentários e reações diante das transferências de alguns irmãos presbíteros, nos orienta a palavra muito clara de nosso bispo: "CONSIDERANDO ser uma prática usual na Igreja que haja, de tempo em tempo transferência de presbíteros..." Me inquieta e, ao mesmo tempo, sensível diante de alguns comentários razoáveis e oportunos e outros tantos muitas vezes nem sempre tão respeitosos, mas que também como numa catarse eclesial faz bem serem vistos e ouvidos já que dão uma amostra de como pensa os nossos leigos e também todos nós como Igreja e, sim, sua voz deva ser valorizada e entendida com muita parcimônia, cada uma nos seus contextos…
Como Assessor do Conselho Diocesano de Leigos, quero fazer esta reflexão valorizando e respeitando cada irmão batizado e todos nós membros do mesmo batismo e sujeitos eclesiais, gostaria aqui não de responder a nenhum desses comentários, mas sugerir algumas pistas que possam nos ajudar a viver esses momentos todos nós, padres e leigos com maior lucidez e tranquilidade, nunca sem sofrimento, que, aliás a respeito disso Cristo nunca nos enganou, todos devemos entender o mandato missional quando Jesus nos ensina: "Que devemos tomar a nossa Cruz e ir atrás Dele, e nunca na Frente e "Ide e batizai a todos Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!".
Mas esse sofrimento, me parece faz parte do dinamismo do Espírito Santo e ele não nos paralisa, muito pelo contrário ele nos desinstala e nos dá crescimento e libertação… Vivi ao longo desses meus vinte cinco anos de padre algumas mudanças bastante significativas, umas mais desafiadoras que outras, mas sempre depois de um certo luto e desapego, me trouxeram muito crescimento e aprendizado.
Assim sem juízo de valor algumas reações de alguns irmãos, com todo carinho nos mostram que as mudanças são até pedagógicas, mesmo que não compreendidas num primeiro momento, e necessárias para entendermos de que Igreja fazemos parte e como sempre disse o Sábio Monsenhor Denizar: "A que distância estamos do Evangelho..."
E não só do evangelho mas também da verdadeira compreensão da essência e identidade que temos como Eclésia = Assembleia dos Chamados. Sempre que isso acontece temos muitos comentários do tipo, e com uma certa inquietação plausível, mas e os supostos "párocos imexíveis" será que há privilégios? Será que hierarquia o Bispo e seu colégio Sinodal de consultores se esqueceram dessas realidades…? Digo que até é justa essa reação que em alguns momentos beira indignação, respeito e entendo esses sentimentos… Mas aqui a Psicologia nos ajuda a iluminar esse dado eclesiológico tanto para o leigos como para nós presbíteros…
Diz a ciência da Psicologia que nós não somos em nenhum momento nas nossas vidas vítimas de ninguém e que a pessoa adulta e amadurecida assume sua história sem vitimismos e sim com a consciência de que somos responsáveis pelos acontecimentos... O próprio Cristo nos ensinou que somos co-responsáveis e colaboradores do Reino de Deus. E também da Igreja que não é uma entidade etérea, mas é cada um de nós batizados com os seus mais variados ministérios e carismas.
Se assim o é, a pergunta e o questionamento que sim pode ser dirigida ao bispo e aos seus colaboradores, não poderiam também ser dirigida a nós presbíteros, que de tempos em tempos deveríamos nos colocar abertos a mudanças para respirar novos ares e viver a aventura e o dinamismo da vida e do cristianismo? Na vida sempre temos ganhos e perdas, se nós presbíteros ficarmos muito tempo no mesmo lugar e na mesma função temos o ganho se for mais de 25 anos ou até 40 anos numa mesma paróquia, ou numa mesma cidade, veremos toda uma geração que batizamos, casamos e alguns casos até sepultamos. E se houver um bom projeto pastoral veremos muitas coisas concretizadas…
Porém, também é verdade que haverá após dez a 12 anos fatalmente, uma acomodação eclesial tanto do padre como da comunidade, e aqui sem má intenção nenhuma, mas sim o normal de uma cristalização onde o espaço para o crescimento e o Dinamismo do Espírito ficam mais limitados para essa realidade eclesial… Agora se você realmente ama seu presbítero e sei que a maioria nos ama e não nos bajula, quando existe uma boa relação entre o padre e a comunidade fica o questionamento que nos responsabiliza...
Uma comunidade amadurecida numa forma dialogal e sinodal como tem nos ensinado o Papa não refletiria com o Pároco de que esse caminho seria oportuno e necessário… Ou continuaremos no vitimismo esperando algum Bispo por uma necessidade eclesial, ou circunstancial transferir esse irmão e aí transformamos a hierarquia em algoz e vilão de um processo eclesial muito comum e natural. E temos presente na Tradição das primeiras comunidades e até dos discípulos que como Jesus iam de aldeia em aldeia, Paróquia em Paróquia evangelizando e sendo evangelizados.
Quem ama de verdade quer ver outro tendo oportunidade, crescimento e renovação, e quem entende o dinamismo do Espírito sabe que mudança e conversão pastoral fazem parte e são essenciais para o crescimento de nossa fé e de nossas comunidades… Por isso que o Direito Canônico também é sábio quando diz a respeito de que o Pároco deve ficar no mínimo seis e no máximo dez, salva a guarda sempre as necessárias circunstâncias e necessidades da Diocese...
Me parece um tempo bastante razoável para sabermos a hora de estar e também a hora de sairmos de cena para sempre lembrarmos que somos meros operários da vinha do Senhor e quem tem que aparecer é o Cristo, ele sim permanece o mesmo na nossa vida, Ontem, Hoje e Sempre. Outro argumento muito comum que surge nessas horas da dor do Parto, já que vivemos de chegadas e partidas, é a premissa que em time que está ganhando não se mexe... Mas aqui brota uma pergunta imediata que emerge do nosso DNA, somos um Time, ou somos Comunidade de Comunidades como nos ensinou o Documento 100 da CNBB…
E me parece que mesmo em times, mesmo que ganhem, os técnicos não duram tanto tempo assim… Ora como temos um DNA eclesial essa comparação é no mínimo equivocada, porque se nos tornarmos time, teremos que competir e subjugar nossos irmãos para nos tornarmos vencedores em vez de amar e servir…
E por mais que estejamos ganhando, e isso tem um prazo de validade, como nos mostra o Direito Canônico, a perdas a partir de determinado momento, que me parecem, muito maiores do que os ganhos, e tanto a renovação do presbítero como da comunidade podem ficar seriamente comprometidos… Assim irmãos, que todas essas manifestações acolhidas e bem refletidas nos façam todos amadurecer e discernir: o que o Espirito fala a nossa Igreja particular da Diocese de São João da Boa Vista? E desde Dom Vilar vem falando com muita força: quem tem ouvidos ouça…
Mas, muitos dizem, mas antes não era assim… Mas depois de 60 anos a nossa diocese também não é a mesma, o mundo não é o mesmo, a forma de pensar dos bispos não é a mesma... Agora somos mais de 79 paróquias, mais de 120 padres e é do dinamismo do Espírito o "aggiornamento" - atualização e transformação que nos movemos no Espírito…
Se entendermos nossa essência e nossa real Tradição eclesial, acontecimentos como esse proposto a nós padres e a nossas comunidades, serão digeridos com muito mais leveza e entendimento do evangelho, porém nunca sem sofrimento e desafios... O nosso mundo mudou e a sua marca é da mobilidade e de mudanças profundas, por isso que neste novo tempo nossos bispos através da CNBB nos propõe um novo modelo eclesial: não mais o modelo de Casa, ainda muito rígida, mas de tenda bem mais flexível e que vai a onde o povo está e necessita...
Realmente são tempos desafiadores, mas que resgata, como nos convidava o Concílio Vaticano II, a mais de 60 anos, a voltarmos as fontes e a nossas origens… Depois de mais de sessenta anos do Concílio, entendemos que a atualização e compreensão desse novo modo de ser Igreja, não é tão simples de viver e nem de compreender...
Porém, sejamos corajosamente essa Igreja em Saída e em Campanha, que vai ao encontro de todos, e, que sabe assumir o seu batismo e dividir as responsabilidades sem vitimismo e alienação… Não é fácil, mas também não é impossível, porque quem nos guia é sempre o Espírito Santo e nisso cremos, vivemos, nos movemos e somos, com Cristo, por Cristo e no Cristo: Cristãos!
Por: Diocese São João em: 08-07-2024 às 17:45:36